sexta-feira, 17 de junho de 2011

A força dos pequenos

Os grandes jornais vêm perdendo terreno ano após ano para os jornais conhecidos como populares. E essa perda se reflete na tiragem dos chamados grandes, tais como Folha de São Paulo, O Globo, Correio Braziliense e O Estado de São Paulo. Juntos, vendiam, em 2000, em torno de um milhão e quatrocentos mil exemplares por dia em todo o País; atualmente, vendem cerca de 780 mil exemplares diários. A retração em uma década é quase à metade. Por outro lado, os jornais populares com circulação de segunda a sábado – poucos circulam aos domingos – aumentaram as suas vendas e, conseqüentemente, seus círculos de leitores, chegando perto dos dois milhões de exemplares.
E o porquê desse crescimento?
Alguns aspectos caracterizam os jornais populares: o formato, o baixo preço de capa e/ou a distribuição gratuita, as notícias, a prestação de serviços, o fato de não terem carteira de assinantes, a quantidade de páginas por edição e, finalmente, a forma de distribuição.
Em Belo Horizonte o jornal Super Notícias é exemplo da força do jornal popular. Vende cerca de 300 mil exemplares por dia. Em Brasília o jornal Coletivo, de distribuição gratuita, circula no final do dia no metrô e nos ônibus que saem da Rodoviária do Plano Piloto rumo às cidades-satélites e à região do Entorno, com tiragem diária de noventa mil exemplares, de acordo com o Anuário de Mídia.
A política de Comunicação do Governo Federal a partir de 2007, então sob o comando do jornalista Franklin Martins, dispensou tratamento diferenciado aos jornais populares e regionais. Os repórteres desses veículos passaram a receber informações na fonte, ou seja, foi criada uma agenda para atendê-los. O resultado foi uma maior divulgação das ações e dos programas do Governo, popularizando o acesso à informação aos diversos segmentos sociais.
Fraser Bond, em Introdução ao Jornalismo (Ágil, 1960) afirma que, além dos chamados valores-notícia, há um fator latente na produção de uma notícia que requer atenção especial: a proximidade. Às vezes, um acontecimento do outro lado da rua tem mais impacto na rotina do cidadão se comparado a um terremoto no Oriente, por exemplo.
Para o jornalista José Edmar Gomes, editor dos jornais comunitários O Movimento (Paracatu/MG) e Folha da Serra (Sobradinho/DF), “...o anseio do povo existe por notícias mais populares e menos populistas”. 
Estas afirmações justificam, mais ainda, o crescimento dos considerados pequenos. A notícia do fato próxima de quem a lê.

sábado, 4 de junho de 2011

Opção contra a violência

Este artigo foi publicado em 2004 nos jornais Folha da Serra (Sobradinho-DF) e O Movimento (Paracatu-MG).  Mesmo depois de decorridos sete anos da publicação original continua atualíssimo. Reproduzo aqui mantendo a grafia corrente à época.

Opção contra a violência
Jorge Luiz Alencar Guerra


A violência deixa a sua marca mesmo o País não estando em guerra. Brasília ostenta, entre outros títulos, o de cidade com alto índice de violência. Embora, repudiado por todos os moradores não há como negar que a cidade concorre com outras metrópoles do País para fazer jus ao título.
Crimes bárbaros são cometidos tendo por motivação fúteis argumentos.
A cidade, pela sua dinâmica e seu traçado urbanístico, foi planejada para propiciar ao morador e ao visitante uma qualidade de vida superior à media das outras metrópoles. Tudo deveria funcionar, de acordo com a natureza do negócio, em áreas previamente estabelecidas. A zorra dos grandes centros não poderia ocorrer aqui. Não poderia! Mas, a necessidade de mão-de-obra no segmento da prestação de serviços, fez com que a cidade sofresse inchaço e vazasse para além dos limites predeterminados na sua concepção. Isso motivou a migração desenfreada  de outras regiões e a acolhida sem planejamento ou visão de futuro. Os resultados saltam aos olhos de quem aqui chega.
A cidade possui uma das maiores rendas per captas do País e ao mesmo tempo concentra bolsões de miséria e qualidades subumanas no seu entorno. Soma-se a isso os crimes hediondos que são praticados nas barbas dos poderes distrital e federal.
A população do Plano Piloto e das cidades-satélites convive com tráfico de drogas, assaltos, seqüestros, estupros e confronto entre gangues, como se cada cidadão fosse responsável pela sua segurança e da própria família, ou seja, no popular “cada um por si e Deus por todos”.  
Brasília também lidera as estatísticas de crimes cometidos por gangues. Gangues formadas por adolescentes e jovens de classe média alta, contrapondo com as gangues de outros centros, que se formam principalmente nas periferias.  
Em Brasília diversão pode ser prenúncio de confusão. A segurança dos eventos, feita por empresas contratadas, deixa a desejar. A truculência e o despreparo dos “seguranças”, motivando agressões pesadas aos jovens freqüentadores desses eventos,  despontam nas delegacias com alto grau registro de ocorrências. Porém, quase sempre, ocorrências que não são apuradas porque não se sabe nada sobre o agressor e a empresa de segurança não detém registros dos contratados free lancer. 
Morre aí a intenção de punir a agressão vil e covarde!
As boates inauguradas com grande pompa prosperam por pouco tempo. Logo, logo, passam a ser territórios de gangues de bad boys que, usando da truculência, arrastam para a pista de dança garotas acompanhadas, humilhando e agredindo quem as acompanha. 
Os pais, ilhados entre a violência incontida das ruas e os prazeres dos filhos, investem pesado para “prendê-los” em casa. Adquirem desde os sofisticados equipamentos de jogos eletrônicos até computadores de alta performance equipados com câmera de áudio e vídeo, HD compatível com as necessidades de troca de arquivos em diversas mídias, gravador de CD’s e outras  parafernálias até então somente disponíveis para os  seguimentos profissionais do mercado.
O jovem de hoje “conversa” com o mundo através da rede mundial de computadores. Não há mais lugares desconhecidos, não há mais fronteiras, tudo está a uma distância de um simples clic.
A violência contribuiu decisivamente para que os jovens de hoje prefiram a reclusão doméstica aos prazeres próprios da idade, abrindo mão do convívio social e optando pelo convívio virtual.
Triste da juventude que tem que abdicar de seus prazeres para resguardar-se das mazelas da violência.
            A violência não é só um problema social é, antes de tudo, um problema cultural de um povo que não acredita nas propostas emanadas de seus governantes para que possam pôr fim ou, ao menos, coibi-la.