A destemperança verborrágica do
ministro Gilmar Mendes ao tratar da matéria da revista Veja, sobre um
encontro entre ele e o ex-presidente Lula, com repercussão política capaz de
abalar as estruturas institucionais do País, não coaduna com o seu cargo que o
exige sereno, lúcido e imparcial.
Não é a primeira vez e nem será a última que o ministro
assume ares de revolta em meio a turbilhão de fatos envolvendo seu nome. Melhor
seria se ficasse mais no anonimato e menos na berlinda. Afinal, como membro da
mais alta Corte julgadora da República deveria preservar-se mais. Os queixumes
e os fatos não dizem respeito à instituição Supremo Tribunal Federal, e sim a
um seu integrante que, pela natureza da constituição da Corte, não julga e não
decide sozinho.
Não há tempo para postergação de julgamentos de processos
que se arrastam como paquidermes. As iminentes aposentadorias dos ministros
Carlos Ayres e Cezar Peluso impõem ao Supremo Tribunal Federal celeridade na
conclusão de julgamentos que interessam à sociedade.
A exposição na mídia, neste caso, não é vantajosa para
nenhum dos envolvidos no episódio e muito menos para os poderes constituídos.
Aufere, sim, vantagem a exploração midiática do episódio quem o noticia e, a
partir daí, prolifera a gestação de escândalos duvidosos.
Melhor para todos se o ministro voltasse a sua eloqüência e
conhecimento jurídicos para as atividades diárias do seu labor e o
ex-presidente Lula continuasse a sua luta pela conscientização e inclusão
daqueles, ainda, milhares de excluídos.
O ministro Gilmar Mendes e o
ex-presidente Lula não podem conviver como se ainda vivêssemos os tempos da
Casa-Grande e da Senzala.