quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Reflexão


Outubro de 2000.  Mais precisamente, noite do dia 10. Servidores da Imprensa Nacional mobilizados contra alteração no cálculo da Gratificação de Produção Suplementar, sem direito à defesa e ao contraditório, são surpreendidos com a redução drástica no valor da gratificação de R$ 3.000,00 para R$ 700,00. O benefício foi instituído por lei no ano de 1964. Mas isto não era tudo. Começava o desmonte de uma das mais antigas instituições públicas do País, sendo referência internacional na recuperação de obras raras e na qualidade dos serviços gráficos executados. Era, também, a editora responsável pelas publicações do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; da Academia Brasileira de Letras; da Casa de Rui Barbosa; das Revistas dos Tribunais Superiores, entre tantas.  Com uma canetada o mundo começou a desmoronar: servidores colocados em exercício provisório e com acesso proibido à velha Imprensa; outros redistribuídos; muitos levados a óbito e o seu valiosíssimo parque gráfico, composto por equipamentos de última geração, outrora pujante, “doado” ao Centro Gráfico do Senado Federal. E porque não a um dos órgãos do Poder Executivo que possuía gráfica? Difícil saber, difícil explicar! Uma coisa se sabe, a decisão foi orquestrada nos porões do Palácio do Planalto, costurada em gabinetes do Senado e arrematada no andar decisório da sede da Presidência da República.
Mas a quem interessaria o desmonte e a desqualificação do órgão?
É certo que a Abigraf e o Sindigraf-DF publicaram no Correio Braziliense uma moção de agradecimento ao então presidente FHC pela “decisão corajosa de homem público” tomada por ele quando extinguiu a atividade gráfica, exceto a impressão dos jornais oficiais. Também é certo que o então senador Arruda – renunciou ao mandato em 24/5/2001 – era integrante da representação dos interesses da indústria gráfica no Senado Federal, tendo recebido doações do segmento para sua eleição.
Mas o que tem isto tudo a ver com os dias atuais? Muito! À época, os dois líderes nas pesquisas ao cargo de senador “habitavam” o Congresso Nacional. Um, como assessor do senador Arruda e o outro, como deputado federal. Reguffe e Magela trabalharam em frentes completamente diferentes na ocasião. O primeiro assessorando a cabeça pensante da ação desmedida e tresloucada que marcou negativamente a Imprensa Nacional, seus servidores ativos, inativos e suas famílias. Magela, participando das negociações e compondo a frente de representação dos fragilizados servidores.
Marcou-me profundamente uma intervenção de Magela em uma das reuniões realizadas com a tropa de choque de FHC, no Palácio do Planalto. Ao tentar contextualizar uma assertiva foi advertido pelo então Secretário de Administração da Casa Civil, Ari Matos, de qual seria a forma correta de postura naquela reunião. Magela, enchendo a todos nós de orgulho, retrucou: “Nas mesas de negociações dos diversos segmentos já estive em todos os lugares, menos embaixo.” Ou seja, sempre com ética defendendo aquilo em que acredita independente da parte a qual representa.   

E é por isso que tem o meu voto e da minha família!