terça-feira, 1 de junho de 2021

Monte Alegre do Piauí – Breve Histórico e Religiosidade

                       Este texto foi escrito especialmente para ser lido na Missa do dia 9 de maio de 2021, Noite das Mães, da Novena de Nossa Senhora de Fátima, a pedido do Pároco padre Raylon Siqueira. A Missa foi presidida pelo bispo diocesano de Bom Jesus do Gurgueia, D. Marcos Tavoni, tendo como concelebrantes os padres Raylon Siqueira, Júlio Nery e Zorenilton Tavares. A celebração fez parte das Festividades do Jubileu Diocesano  dos 100 anos da Diocese de Bom Jesus do Gurgueia e do Jubileu Paroquial. A leitura do texto coube a Darenilton Braz.


                Monte Alegre do Piauí tem seus primórdios onde se localizavam dois casebres de taipa, cobertos de palha, pertencentes à família Romão. No ano de 1946, o garimpeiro João Néri resolve desbravar a região lavando o cascalho abundante nos leitos e nos barrancos das grotas e riachos. Foi grandemente recompensado com a descoberta de um veio de cascalho que logo se mostrou como uma mina diamantífera de proporção até então inimaginável. Logo, outras minas foram descobertas e surgiram garimpos de diamantes e carbonados de excelente qualidade. A primeira exportação de diamantes ocorreu em setembro de 1946.

            A propagação da notícia das descobertas das minas deu início ao povoamento da futura cidade com a chegada de famílias de municípios e estados vizinhos, especialmente da Bahia – região da Chapada Diamantina, gente dotada de espírito intrépido e domínio das técnicas de garimpagem. O garimpo trouxe pessoas e costumes que moldaram as peculiaridades do futuro gentio monte-alegrense.

Em 1948, o povoado já se destacava em relação à sede do município nos aspectos econômico e demográfico. Foi desmembrado do município de Gilbués, passando a ter território patrimonial autônomo pela Lei Municipal nº 14, de 27 de fevereiro de 1955, sancionada pelo prefeito Deocleciano José de Santana. Sua instalação se verificou a 30 de junho do mesmo ano, sendo seu primeiro prefeito o senhor Herculano de Andrade Negrão. O povoamento e a consequente ocupação do solo pelos primeiros moradores não obedeceram a nenhum padrão ou regra; ocorreram ao bel-prazer de quem construía a barraca destinada à moradia ou ao comércio. Mais tarde, as construções de adobe e alvenaria somente substituíram as barracas. O traçado da cidade continuou a serpentear as grotas e montes, dando-lhe aspecto peculiar e contribuindo para nominar os logradouros de acordo com seus habitantes, seu traçado ou seus marcos existentes. A hospitalidade e a alegria dos habitantes indicam o porquê de ser um monte alegre de gente boa, disposta a acolher e a servir, com suas figuras e estereótipos próprios.

Relatos indicam que desde a chegada das famílias era comum a realização de “rezas” em residências. Cânticos e louvores marcavam esses encontros entre senhoras da comunidade. Mesmo assim, não há uma fonte confiável que possa assegurar como se deu a escolha de Nossa Senhora de Fátima como padroeira da comunidade. Certo é que sua imagem, depois de adquirida, ficou guardada em uma sala da antiga Escola Normal de Gilbués. Em 1957, as professoras do Grupo Escolar José de Anchieta – Daysa Guerra, Maria Rocha e Dalva Figueiredo – decidiram buscar a imagem de Nossa Senhora de Fátima em Gilbués. Para tanto, prepararam na parte de trás do jipe de Francisco Sucupira um altar ladeado por duas crianças vestidas de anjo – Edocília Guimarães e Edinalva Siqueira. A viagem durou todo o dia, diante da precariedade da estrada que ligava as duas cidades.

A imagem foi colocada em um altar em uma sala de aula do Grupo José de Anchieta e ali permaneceu por cerca de um ano. Durante este tempo, os alunos da escola rezavam o Terço com as professoras ao final das aulas durante o mês de maio, como forma de homenagear a Mãe de Fátima.

Posteriormente, a imagem foi levada para a casa de D. Marocas Moraes, na Rua Baiana, até que se construísse a igreja matriz.

A construção da igreja, com o patrocínio do Município, demorou mais tempo que o necessário. Era feita por etapas. Depois de construídas as paredes e como não havia providências para terminar a cobertura, a professora Maria dos Humildes sugeriu uma aula em contato com a natureza e todos os alunos e professores se deslocaram para a localidade Namorado, onde ficavam as olarias de fabrico de telhas. Ao retornar para a escola, todos traziam sobre a cabeça uma quantidade de telhas que lhes fosse capaz de transportar. Assim deu-se a conclusão da obra, com a instalação do telhado. O sino da igreja Matriz foi doado pelo senador bom-jesuense Joaquim Santos Parente.

Posteriormente, foi entronizada a imagem de Nossa Senhora de Fátima no seu altar principal. A comunidade continuou assistida pelo pároco de Gilbués, que aparecia em intervalos de meses, ou por outro sacerdote de passagem pela cidade.

Somente em 1966 foi designado o primeiro vigário, o padre Getúlio de Alencar, que celebrava aos sábados à noite e aos domingos pela manhã, retornando para Gilbués, onde residia.

Em 1967, o então bispo D. José Vásquez, atendendo aos reclamos da comunidade monte-alegrense pela necessidade de ter um pároco residente na cidade, designou o padre Raimundo Dias Negreiros para o desafiador encargo. Ele chegou, cativou, idealizou, educou e ficou para sempre no solo monte-alegrense.

Fundou a Obra Social Nossa Senhora de Fátima, lançou a pedra fundamental e edificou o Ginásio Nossa Senhora de Fátima; criou a Unidade Escolar Manoel Bandeira; aproximou o povo da igreja e a igreja do povo; retomou a prática das desobrigas pelo interior do município; construiu capelas nas comunidades e coroou sua missão evangelizadora com a construção do Santuário de Nossa Senhora de Fátima, inaugurado em fevereiro de 1990, onde está sepultado por vontade própria. Faleceu em novembro de 1996.

O padre Anísio Borges, após ordenação diaconal, foi designado para auxiliar o já adoentado padre Raimundo, em 1994. Ordenado, foi designado como vigário, até 1996, sucedendo ao padre Raimundo e permanecendo como pároco até 2004. Na sua gestão, levou a D. Ramón Diaz a sugestão de ordenação diaconal de Júlio Neri, considerando a institucionalização do diaconato permanente. Teve como sucessor o padre Antônio Mendes que permaneceu por oito meses à frente da paróquia.

Em 2005, foi designado como pároco o padre José William. De espírito idealizador, promoveu reformas estruturantes na Igreja Matriz e no Santuário, contribuindo, sobremaneira, para a modernização e o embelezamento do espaço Mariano monte-alegrense. Foi na sua gestão a ordenação presbiteral de Júlio Neri, vigário da paróquia até os dias atuais.

Em 2017, foi designado pároco o padre Raylon Siqueira, em substituição ao padre José William. De espírito conciliador - necessário em face das circunstâncias encontradas - Raylon reaproximou a comunidade da igreja e, embora enfrente dificuldades, tem promovido reformas nas instalações dos imóveis da paróquia, dotando-os de estrutura capaz de receber reuniões de pastorais e grupos, além de espaço para realização de outros eventos da comunidade. O padre Raylon tem a auxiliá-lo os padres Júlio Néri e Zorenilton Tavares.

A pandemia em que vive o Brasil tem se refletido também nas ações e campanhas da paróquia. Contudo, mesmo com as dificuldades vividas, não tem sido motivo de impedimento para assistência às comunidades católicas do município, representadas pelas 19 Capelas no interior e três na cidade, além do Santuário e da Igreja Matriz de Nossa Senhora de Fátima.

Maio é tradicionalmente para a comunidade Mariana monte-alegrense, um tempo de júbilo e homenagens à Maria, Nossa Mãe Santíssima. A procissão de 13 de maio, serpenteando as ruas da cidade, demonstra a fé, a devoção e o amor filial do nosso povo à Nossa Senhora de Fátima.

NOSSA SENHORA DE FÁTIMA, MÃE E RAINHA, ROGAI SEMPRE POR NÓS, VOSSOS FILHOS!