Este texto foi escrito especialmente para ser lido na Missa do dia 9 de maio de 2021, Noite das Mães, da Novena de Nossa Senhora de Fátima, a pedido do Pároco padre Raylon Siqueira. A Missa foi presidida pelo bispo diocesano de Bom Jesus do Gurgueia, D. Marcos Tavoni, tendo como concelebrantes os padres Raylon Siqueira, Júlio Nery e Zorenilton Tavares. A celebração fez parte das Festividades do Jubileu Diocesano dos 100 anos da Diocese de Bom Jesus do Gurgueia e do Jubileu Paroquial. A leitura do texto coube a Darenilton Braz.
Monte Alegre do Piauí tem seus
primórdios onde se localizavam dois casebres de taipa, cobertos de palha,
pertencentes à família Romão. No ano de 1946, o garimpeiro João Néri resolve
desbravar a região lavando o cascalho abundante nos leitos e nos barrancos das
grotas e riachos. Foi grandemente recompensado com a descoberta de um veio de
cascalho que logo se mostrou como uma mina diamantífera de proporção até então
inimaginável. Logo, outras minas foram descobertas e surgiram garimpos de
diamantes e carbonados de excelente qualidade. A primeira exportação de
diamantes ocorreu em setembro de 1946.
A propagação da notícia das
descobertas das minas deu início ao povoamento da futura cidade com a chegada
de famílias de municípios e estados vizinhos, especialmente da Bahia – região
da Chapada Diamantina, gente dotada de espírito intrépido e domínio das
técnicas de garimpagem. O garimpo trouxe pessoas e costumes que moldaram as
peculiaridades do futuro gentio monte-alegrense.
Em
1948, o povoado já se destacava em relação à sede do município nos aspectos
econômico e demográfico. Foi desmembrado do município de Gilbués, passando a
ter território patrimonial autônomo pela Lei Municipal nº 14, de 27 de
fevereiro de 1955, sancionada pelo prefeito Deocleciano José de Santana. Sua instalação
se verificou a 30 de junho do mesmo ano, sendo seu primeiro prefeito o senhor
Herculano de Andrade Negrão. O povoamento e a consequente ocupação do solo
pelos primeiros moradores não obedeceram a nenhum padrão ou regra; ocorreram ao
bel-prazer de quem construía a barraca destinada à moradia ou ao comércio. Mais
tarde, as construções de adobe e alvenaria somente substituíram as barracas. O
traçado da cidade continuou a serpentear as grotas e montes, dando-lhe aspecto
peculiar e contribuindo para nominar os logradouros de acordo com seus
habitantes, seu traçado ou seus marcos existentes. A hospitalidade e a alegria
dos habitantes indicam o porquê de ser um monte alegre de gente boa, disposta a
acolher e a servir, com suas figuras e estereótipos próprios.
Relatos indicam que desde a chegada das
famílias era comum a realização de “rezas” em residências. Cânticos e louvores
marcavam esses encontros entre senhoras da comunidade. Mesmo assim, não há uma
fonte confiável que possa assegurar como se deu a escolha de Nossa Senhora de
Fátima como padroeira da comunidade. Certo é que sua imagem, depois de
adquirida, ficou guardada em uma sala da antiga Escola Normal de Gilbués. Em
1957, as professoras do Grupo Escolar José de Anchieta – Daysa Guerra, Maria
Rocha e Dalva Figueiredo – decidiram buscar a imagem de Nossa Senhora de Fátima
em Gilbués. Para tanto, prepararam na parte de trás do jipe de Francisco
Sucupira um altar ladeado por duas crianças vestidas de anjo – Edocília
Guimarães e Edinalva Siqueira. A viagem durou todo o dia, diante da
precariedade da estrada que ligava as duas cidades.
A imagem foi colocada em um altar em uma
sala de aula do Grupo José de Anchieta e ali permaneceu por cerca de um ano.
Durante este tempo, os alunos da escola rezavam o Terço com as professoras ao
final das aulas durante o mês de maio, como forma de homenagear a Mãe de
Fátima.
Posteriormente, a imagem foi levada para
a casa de D. Marocas Moraes, na Rua Baiana, até que se construísse a igreja
matriz.
A construção da igreja, com o patrocínio
do Município, demorou mais tempo que o necessário. Era feita por etapas. Depois
de construídas as paredes e como não havia providências para terminar a
cobertura, a professora Maria dos Humildes sugeriu uma aula em contato com a
natureza e todos os alunos e professores se deslocaram para a localidade
Namorado, onde ficavam as olarias de fabrico de telhas. Ao retornar para a
escola, todos traziam sobre a cabeça uma quantidade de telhas que lhes fosse
capaz de transportar. Assim deu-se a conclusão da obra, com a instalação do
telhado. O sino da igreja Matriz foi doado pelo senador bom-jesuense Joaquim Santos Parente.
Posteriormente, foi entronizada a imagem
de Nossa Senhora de Fátima no seu altar principal. A comunidade continuou
assistida pelo pároco de Gilbués, que aparecia em intervalos de meses, ou por
outro sacerdote de passagem pela cidade.
Somente em 1966 foi designado o primeiro
vigário, o padre Getúlio de Alencar, que celebrava aos sábados à noite e aos
domingos pela manhã, retornando para Gilbués, onde residia.
Em 1967, o então bispo D. José Vásquez,
atendendo aos reclamos da comunidade monte-alegrense pela necessidade de ter um
pároco residente na cidade, designou o padre Raimundo Dias Negreiros para o
desafiador encargo. Ele chegou, cativou, idealizou, educou e ficou para sempre
no solo monte-alegrense.
Fundou a Obra Social Nossa Senhora de
Fátima, lançou a pedra fundamental e edificou o Ginásio Nossa Senhora de
Fátima; criou a Unidade Escolar Manoel Bandeira; aproximou o povo da igreja e a
igreja do povo; retomou a prática das desobrigas pelo interior do município;
construiu capelas nas comunidades e coroou sua missão evangelizadora com a
construção do Santuário de Nossa Senhora de Fátima, inaugurado em fevereiro de
1990, onde está sepultado por vontade própria. Faleceu em novembro de 1996.
O padre Anísio Borges, após ordenação
diaconal, foi designado para auxiliar o já adoentado padre Raimundo, em 1994.
Ordenado, foi designado como vigário, até 1996, sucedendo ao padre Raimundo e
permanecendo como pároco até 2004. Na sua gestão, levou a D. Ramón Diaz a
sugestão de ordenação diaconal de Júlio Neri, considerando a institucionalização
do diaconato permanente. Teve como sucessor o padre Antônio Mendes que permaneceu
por oito meses à frente da paróquia.
Em 2005, foi designado como pároco o
padre José William. De espírito idealizador, promoveu reformas estruturantes na
Igreja Matriz e no Santuário, contribuindo, sobremaneira, para a modernização e
o embelezamento do espaço Mariano monte-alegrense. Foi na sua gestão a
ordenação presbiteral de Júlio Neri, vigário da paróquia até os dias atuais.
Em 2017, foi designado pároco o padre
Raylon Siqueira, em substituição ao padre José William. De espírito conciliador
- necessário em face das circunstâncias encontradas - Raylon reaproximou a
comunidade da igreja e, embora enfrente dificuldades, tem promovido reformas
nas instalações dos imóveis da paróquia, dotando-os de estrutura capaz de
receber reuniões de pastorais e grupos, além de espaço para realização de
outros eventos da comunidade. O padre Raylon tem a auxiliá-lo os padres Júlio
Néri e Zorenilton Tavares.
A pandemia em que vive o Brasil tem se
refletido também nas ações e campanhas da paróquia. Contudo, mesmo com as
dificuldades vividas, não tem sido motivo de impedimento para assistência às
comunidades católicas do município, representadas pelas 19 Capelas no interior
e três na cidade, além do Santuário e da Igreja Matriz de Nossa Senhora de
Fátima.
Maio é tradicionalmente para a
comunidade Mariana monte-alegrense, um tempo de júbilo e homenagens à Maria,
Nossa Mãe Santíssima. A procissão de 13 de maio, serpenteando as ruas da
cidade, demonstra a fé, a devoção e o amor filial do nosso povo à Nossa Senhora
de Fátima.
NOSSA
SENHORA DE FÁTIMA, MÃE E RAINHA, ROGAI SEMPRE POR NÓS, VOSSOS FILHOS!
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