Este pequeno texto do jornalista Leandro Fortes, que reproduzo do blog Viomundo, do jornalista Luiz Carlos Azenha, traz à discussão a sórdida maneira de informar utilizada por Veja. Informar sem se preocupar com a responsabilidade sobre a veracidade da noticia já é recorrente. Utilizar artifícios de imagem para produzir capas chocantes e apelativas demonstra necessidade de auto-afirmação.
Os truques manjados do jornalismo denunciativo
Leandro Fortes(*)
publicado em 8 de setembro de 2014 às 1:57
VEJA PARA INICIANTES
Dei-me ao trabalho de
macular minha manhã de domingo e ler a matéria da Veja sobre a tal delação
premiada de Paulo Roberto da Costa, ex-diretor da Petrobras.
Como era de se esperar,
o texto não tem nem uma mísera prova e está jogado naquele apagão de fontes
que, desde 2003, caracteriza o jornalismo denunciativo de boa parte da mídia
nacional.
A matéria elenca números
e nomes sem que nenhum documento seja apresentado ao leitor, de forma a dar ao
infeliz assinante uma mínima chance de acreditar naquilo que está escrito.
Nada. Nem uma fotocópia do cabeçalho do inquérito da Polícia Federal.
O autor do texto, então,
deve ter lançado mão de duas opções, ambas temerárias no ofício do jornalismo:
1) Teve a orelha
emprenhada por uma fonte da PF – agente ou delegado – e decidiu publicar a
matéria mesmo sem ter nenhuma prova de nada. Dada as circunstâncias da Veja e a
maneira como seus repórteres ascendem dentro da revista, esse tipo de
irresponsabilidade tanto é admirado quanto estimulado;
2) Inventou tudo,
baseado em deduções, informações fragmentadas, desejos, ilusões e ordens do
patrão.
No texto, uma longa e
entediante sucessão de clichês morais, descobre-se lá pelas tantas que os
depoimentos estão sendo gravados em vídeo e criptografados, para, assim, se
evitar vazamentos.
Logo, é bem capaz que
Veja, outra vez, faça esse tipo de denúncia sem que precise – nem se sinta
pressionada a – jamais provar o que publicou. Exatamente como o grampo sem
áudio entre o ministro Gilmar Mendes e o ex-mosqueteiro da ética Demóstenes
Torres.
Novamente, o Frankstein
jornalístico montado pela Veja visa, única e exclusivamente, atingir o PT às
vésperas das eleições, a tal “bala de prata” que, desde as eleições de 2002,
acaba sempre saindo pela culatra da velha e rabugenta mídia brasileira.
O esqueminha de
repercussão, aliás, continua o mesmo: sai na Veja, escorre para o Jornal
Nacional e segue pela rede de esgoto dos jornalões diretamente para as penas
alugadas de uma triste tropa de colunistas.
Embrulhado o pacote, os
suspeitos de sempre da oposição se revezam em manifestações indignadas e em
pedidos de CPI.
Uma ópera bufa que se
repete como um disco arranhado.
Mas é o que restou à
combalida Editora Abril, depois que a candidatura de Aécio Neves morreu junto
com Eduardo Campos naquele trágico desastre de avião.
http://www.viomundo.com.br/denuncias/leandro-fortes-os-truques-manjados-jornalismo-denunciativo.html
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(*)Leandro Fortes é jornalista, professor e escritor brasileiro. Trabalhou como escritor para o Jornal do Brasil, Zero Hora, O Globo, Correio Braziliense, Estado de S. Paulo e Revista Época.

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