Sábado, 23 de abril, pouco depois
das sete horas da manhã, incorporei-me ao grupo que havia saído de Sobradinho –
Arival, Belizário, Deusvaldo, Jesumar e Roberthson, e tinha como primeiro
destino a cidade de Diamantina, em Minas Gerais. De lá, outros destinos seriam
escolhidos desde que neles estivesse a cidade de Serro. Motivo: meus primos Belizário (Júnior) e
Roberthson (Berão) iriam tentar identificar troncos da família Ávila para saber
um pouco mais do seu avô paterno José de Ávila que migrara muito jovem para a
região de garimpos do médio São Francisco na Bahia, onde constituiu família. Ahhh...
a visita a cidade de Serro também estava pautada para aquisição de queijos
diversos produzidos ali. Outra certeza ao começar a viagem era que eu, Júnior e
Berão, iriamos até o Piauí. Uma Toyota Prado e uma L 200 nos carregariam do
planalto central às montanhas de Minas com a esticada ao Piauí.
O primeiro bate-papo do grupo foi
em Cristalina, parada estratégica para um cafezinho e discussão sobre o almoço.
Apesar da resistência de Arival, venceu
a sugestão de comermos uma peixada de Surubim no Restaurante Beira Rio, em Três
Marias, às margens do Velho Chico. Independente da apresentação do prato, o
mestre Arival estava com a razão. O peixe não foi o que esperávamos.
Causou estranheza a todos a
quantidade de pedágio no trecho de Brasília ao trevo para Curvelo. Cinco ao
todo, a R$ 4,60 cada, e muito pouca pista duplicada. Coisas do Brasil!
Chegamos a Diamantina ao anoitecer
e a temperatura, àquela hora, na casa dos 20° indicava que o frio iria apertar
mais tarde. Para nós, sedentos por uma bebidinha, isso era fator de menos
importância. Noite fechada, guiados pela Prado de Arival tendo como co-piloto
Jesumar – já habitués das plagas
diamantinenses – chegamos à Praça da Matriz de Santo Antônio, após percorrer um
beco em que só é possível passar com carros médios recolhendo os retrovisores
externos. Ali, bem próximo, por toda a Rua da Quitanda, mesas apinhadas de
pessoas que degustavam petiscos e pratos da terra acompanhados de vinhos,
cervejas e doses da legítima cachaça mineira, aguardando a Vesperata, um evento
musical da cidade que tem datas definidas de abril a outubro. A música, o
casario colonial e a iluminação em formato de lampiões nos remetem a rememorar
a história do Brasil, fatos e personagens dela. Certamente, que não esquecemos
Juscelino Kubistchek, o filho mais ilustre da cidade.
Pela manhã voltamos ao centro
histórico de Diamantina para fotografias e incursões em becos e ladeiras. Em
uma das vielas encontramos um café da manhã comunitário e muito folclore
regional.
Na noite anterior tinha ficado
resolvido que o nosso próximo destino seria Serra do Cipó. Pegamos a estrada
rumo à Cordilheira do Espinhaço. Logo no início da viagem, uma placa indicava a
nascente do Jequitinhonha. Da serra para o mar. Trechos de asfalto e terra
compõem grande parte do trajeto até Conceição de Mato Dentro entrecortado pela
Estrada Real (Diamantina-MG a Paraty-RJ), destinada ao escoamento da produção
de ouro e diamantes.
Passava do meio-dia quando
chegamos à Serra do Cipó. Cidadezinha com clima de montanha e opções de
ecoturismo. Depois de um rápido almoço fomos nos instalar na Pousada Prata
Serra do Cipó. Aproveitando a área de lazer e a cerveja gelada, ficamos até o
escurecer em um bate-papo de diversos e inesgotáveis assuntos. À noite, o
grupo, desfalcado de Deusvaldo que ficara “descansando” na pousada, foi até o
centro comercial da cidade a procura de cerveja gelada. Para nossa surpresa o
barzinho que escolhemos sugeriu, como opção, chope da Brahma. Certamente, ao
sairmos, um barril ficou vazio.
Dia seguinte, logo depois do café
da manhã, iniciamos a subida da serra com destino a Serro e uma parada
programada, para aquisição de linguiça caipira, em Conceição de Mato Dentro. O
estômago já reclamava a ausência de um grude quando chegamos ao nosso destino.
Paramos no Restaurante Dodóia e Júnior que oferece comidas caseiras típicas da cozinha mineira. A entrada da refeição principal é a base de queijos diversos produzidos no município acompanhados de uma legítima cachaça mineira, para os apreciadores. Depois de uma exagerada refeição, na verdade sem preocupações como as taxas do hemograma, fomos conhecer a Pousada da D. Tuca, uma sugestão econômica de Denise Guerra baseada em pesquisas na internet. Considerando o benefício da pousada, o custo estava de bom tamanho.
Devidamente instalados deixamos o
local para conhecer a cidade, suas igrejas e outras construções coloniais.
Depois das visitas ao Pelourinho, às igrejas de Nossa Senhora do Carmo e de
Santa Rita, esta com seus 57 degraus longos, fomos até o Butiquim J. Ávila
matar a sede. Ali, entre uma cerveja e uma explicação, ficou evidente que a
busca de Berão e Júnior por seus ancestrais não é uma tarefa fácil, haja vista
que em todos os ramos da família Ávila há um José para homenagear o patriarca
do casal português que se instalou no Serro. Diante do fato resolvemos retornar
à pousada com o intuito de encomendarmos uma galinha caipira para o jantar. A
encomenda foi prontamente aceita por D. Tuca, porém, com uma advertência:
“galinha não é problema, pois tenho e mato, mas não faço.” Imediatamente, e de
forma uníssona, todos disseram: “Berão faz”.
E fez! Jantamos e nos recolhemos para fugir do friozinho cortante.
Pela manhã, fomos direto à
Cooperativa em busca dos queijos. Queijos e sabores para todos os gostos. As
encomendas e as compras de cada um terminaram por encher três grandes caixas
térmicas que ocuparam quase todo o bagageiro da Prado, inclusive as minhas
compras, as de Berão e as de Júnior, uma vez que de Serro nós iríamos para o
Piauí rumando para o norte de Minas. Após as despedidas pegamos a estrada.
Arival, Deusvaldo e Jesumar retornando a Brasília e nós seguindo o traçado
inicialmente acertado.
Na primeira hora de viagem um
barulho na cabine da L 200 começou a ser notado. O barulho era como se fosse
provocado pelo contato de um plástico duro com outro ou com metal e minha
impressão era que vinha do painel frontal mais especificamente do aparelho
multimídia. Berão concordava. Júnior receoso de que fosse algo com o conjunto
de direção estava apreensivo. Paramos em uma oficina em Diamantina, mas logo
por consenso resolvemos seguir viagem até a oficina autorizada Mitsubishi, em
Montes Claros. Chegamos por volta de meio-dia. Demos entrada no veículo e
saímos para almoçar. Na volta o consultor técnico informou que o carro passaria
por um recall na fechadura do capô e seria providenciada a avaliação da
reclamação. O recall foi realizado e o carro devolvido sem que tenha sido
identificado nenhum barulho. Melhor assim. Júnior deixou a oficina com o ego
massageado pela resposta do consultor técnico e do mecânico a uma solicitação
de avaliação informal sobre o estado do veículo: notas 9,5 e 9,0,
respectivamente.
Como ficamos parados mais de três
horas, chegamos à Janaúba ao cair da noite. Como não conhecíamos a estrada
resolvemos procurar um hotel para pernoite. A cidade de Janaúba destaca-se pela
produção de frutas tropicais, especialmente a banana, e pelo abate diário de
800 bovinos destinados à exportação para a Europa, Ásia e Oriente Médio.
Pegamos novamente a estrada tendo como referência a cidade de Cocos, na Bahia.
Depois de viajar cerca de uma hora passamos pela cidade de Jaíba, que detém um
dos maiores projetos de irrigação com águas do São Francisco, resultado de uma
parceria entre o governo federal e o governo do estado de Minas, para produção
frutícola, olerícola e outras culturas tradicionais. Logo adiante chegamos às
margens do São Francisco. Majestoso e exuberante se deixa cortar por balsas
usadas para travessias de pessoas, veículos leves e pesados. Do outro lado a
cidade de Manga. Ao saber que havia feira no mercado Berão exigiu uma visita
para aquisição de feijão, farinha e temperos básicos. Após as aquisições,
voltamos a pegar a BR-135 – terra, bico de pedra, poeira e um pouco de
excelente asfalto.
Mas ainda faltava o inusitado!

Ao passar sobre a ponte do rio
Carinhanha, divisa dos estados de Minas Gerais e Bahia, fomos surpreendidos
pelo fim da estrada, literalmente. Após a ponte, sem nenhum aviso nos dois
quilômetros que a antecedem, havia uma cerca. Uma cerca de arame farpado! Uma
armadilha irresponsável patrocinada por órgãos governamentais a quem competem o
projeto, a construção, a sinalização e a conservação das rodovias. Ficamos a
imaginar àquela situação à noite, com visão limitada. Coisas do Brasil!
Voltamos cerca de um quilômetro
até um trevo que dá acesso a uma corrutela que se liga a Cocos na Bahia por
meio de estrada típica para carros de boi ou carroças e, hoje, muito bem vencida
pelas inúmeras motocicletas da região.
Chegamos a Barreiras-BA, por
volta de 19 horas, para nosso último pernoite antes de chegar ao Piauí. Saímos
cedinho e antes das 11 horas já estávamos aboletados no Bar do Mário em Monte
Alegre bebendo cerveja, jogando conversa fora e preparando a matula líquida com
vasilhames emprestados pelo dono do bar.
Nas fazendas foram cinco dias de
comilanças e muita cerveja. Algumas providências acertadas e retornamos a
Brasília após dez dias da nossa saída e 4.000 km percorridos.
Vai ter mais! Ora, se vai!




