Impossível não replicar o artigo do jornalista José Antônio Lima publicado no portal Esporte Fino e replicado na Carta Capital.
Impossível, pela essência e,
especialmente, pelo conteúdo do seu último parágrafo.
Há muito, Sarah Menezes vem
competindo e fazendo história e ao derrotar, no último sábado, a romena Alina Dumitru fechou o dia
que começou com três vitórias, na parte da manhã, em cima das representantes vietnamita, francesa, chinesa e à tarde sobre a representante belga.
Sarah Menezes: algo está dando
certo no esporte brasileiro*
José Antonio Lima
A
medalha de ouro conquistada por Sarah Menezes em Londres 2012 é
importante por vários motivos. É a primeira do judô feminino, a terceira
do judô em geral, e a segunda de mulheres brasileiras em esportes individuais.
Mais do que isso, a medalha de Sarah é reflexo de um Brasil que
dá certo.
Como mostraram posts desta semana aqui no Esporte
Fino, a medalha de Sarah não foi
uma surpresa. Ela chegou como uma das favoritas, se superou quando mais precisava
e conquistou o ouro. Parecia, não uma brasileira, mas uma atleta dos Estados
Unidos. No pódio, estava claramente feliz, mas não tinha aquela alegria quase
desesperada de quem luta “contra tudo e contra todos”, como estamos
acostumados. Sarah, aos 22 anos, faz faculdade, tem boa estrutura para treinar,
tem três patrocínios privados e recebe o Bolsa Atleta, do governo federal. Tudo
o que sempre exigimos.
Isso não é para dizer que está tudo bem no
esporte brasileiro. Não está. Como mostrou reportagem do colega Fernando Vives
na edição atual da revista Carta Capital, há muito por fazer. O foco hoje está no
alto nível, enquanto o esporte escolar, de onde sairão os futuros campeões, é
precário. Isso é reflexo do vergonhoso estado da educação como um todo no
Brasil, um problema ao qual os governos deveriam dedicar muito mais atenção.
É preciso reconhecer, no entanto, que há
esportes “dando certo”, como é o caso do judô. O trabalho vem melhorando a cada
ano, os bons resultados se acumulam e a prova disso é o fato de o Brasil chegar
a Londres com uma seleção completa, num esporte que rende até 14 medalhas,
e com chances de conquistar muitas delas.
Se os judocas brasileiros vão conseguir isso
daqui pra frente é, como deveria ser sempre, uma questão esportiva, e não
política ou sociológica. A vitória de Sarah não deixa espaço para pautas como
“o drama do nordestino”, o “drama da mulher” ou o “drama do esportista sem
apoio que ganha apesar de tudo”. Aos poucos (mais devagar do que eu gostaria, é
preciso dizer), vamos rompendo a lógica dramática do nosso esporte. Sarah é
mulher, é nordestina, e é uma esportista brasileira. Ela foi campeã olímpica
assim, e não apesar de tudo isso.